A expectativa do mercado era que 2021 fosse o ano da retomada. Com a vacinação avançando e a esperança de que a pandemia ficasse no passado, setores como serviço e indústria deveriam voltar a aquecer. A realidade, porém, tem sido diferente do que o esperado e as novas variantes da Covid-19 chegaram dando um balde de água fria nesses planos.
Em vez da esperada trajetória de alta constante, o que se vê é uma economia cambaleante, que teve um bom resultado no primeiro trimestre, mas voltou a regredir. Não à toa, o Brasil teve o terceiro pior desempenho do Produto Interno Bruto (PIB) entre os países do G20, registrando uma baixa de 0,1%, quando comparado com o trimestre anterior.
A negativa veio pela retração da agropecuária, que caiu 2,8%; indústria, que teve recuo de 0,2%, e a estagnação do consumo das famílias, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
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Expectativas para o segundo semestre
O país deve encarar a abertura da economia e reaquecimento de atividades adormecidas pela pandemia, mas também a ameaça de inflação e desemprego, que juntas podem gerar a estagflação.
O crescimento da inflação pode ser visto na disparada do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de agosto, que superou o consenso da maioria dos bancos. “Tivemos uma alta de 0,87% na inflação, maior que o consenso do mercado, que era 0,71%. Foi a maior variação em agosto desde 2000”, explica Luiz Calado, economista e pós-doutor pela Universidade da Califórnia.
Segundo o especialista, a alta já é sentida no bolso da população, com produtos como comidas e carros novos e seminovos com preços inflacionados. Relatório do Banco Original estima que no segundo semestre o índice fique em 7,5% — para 2022, a projeção é de 3,8% e, no primeiro semestre de 2021, a inflação acumulada foi de 9%.
Por conta da pressão inflacionária, o Banco Central (BC) já aponta para um aumento na Selic (taxa básica de juros), como maneira de conter a inflação. Roberto Campos Neto, presidente do BC, disse, inclusive, em evento promovido pelo Banco BTG, que não terá limites para subir a taxa diante do cenário atual e não descartou “intervenção” contra o aumento da demanda por dólar. “Vamos levar a Selic aonde precisar, mas não vamos reagir sempre a dados de alta frequência. A gente entende que é importante suprir, fazer intervenções que vão contra a demanda pontual por dólar, que a gente entende que vai ser maior no fim do ano”, afirmou.
A pressão inflacionária também foi detectada pela XP Investimentos, que em relatório feito por seu economista-chefe, Caio Megale, estimou que a Selic deve fechar o ano em 9,5% para então sofrer quedas trimestrais ao longo de 2022. Já de acordo com o relatório do Banco Original, o “cenário inflacionário continua a trazer preocupações” por conta da “alta dos preços de algumas commodities em reais, da aceleração de preços mais rígidos, como serviços, e da possível elevação da inércia com o enfraquecimento da âncora fiscal prescrita pelo teto de gastos.”
O teto, aliás, não é a única lei que está sendo discutida para melhorar a economia brasileira. Há diversas reformas no pipeline do Congresso que poderão ajudar na retomada. A principal delas é a reforma tributária, tema discutido há décadas, mas que encontra resistência em Brasília. O documento, enviado pelo governo, foi recebido com receio no Congresso e, após negociações, o texto foi reduzido a uma reforma no imposto de renda.
O cenário para 2022
Para o ano que vem, a meta é retomar suas atividades plenamente. Para tal, um dos principais entraves é o desemprego. Com a pandemia e o fechamento de postos de trabalho, muitas pessoas deixaram de buscar emprego formal, porém, com a retomada, a procura deve aumentar, inflando a massa de desempregados no Brasil.
De acordo com informações do Banco Original, um dos principais motivos do aumento da taxa de desemprego no Brasil é a volta dos informais para a força de trabalho, o que faz a instituição financeira projetar uma taxa de desemprego de 14,5% em 2021 e de 13,8% em 2022.
O PIB
Mesmo com os fatores citados acima, diversas instituições mantiveram suas projeções para o PIB em 2022. O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) mantém a previsão de crescimento em 2% para 2022, porém com viés de baixa. “Existe a possibilidade de trabalhar com um número menor quando se soltar a nova revisão, no mês que vem”, disse o pesquisador do Ipea Leonardo Mello de Carvalho para a Agência Brasil.
Já a projeção do Banco Original é mais modesta, prevendo crescimento de 1,5% do PIB para 2022, considerando não só o cenário interno, mas o cenário externo também. Em relatório, o banco aponta que “os ventos favoráveis vindos do cenário global em 2021 podem mudar de direção em 2022, enquanto a antecipação do ajuste monetário neste ano pode contribuir de forma significativa para a redução do crescimento em 2022.”